21/09/2009

todas as luzes e as luzes
de todos os prédios

no alto do fim do procedimento cirúrgico
um ponto vermelho
indicando os acidentes

não me olhe agora
não me molhe agora

estamos no meio de um inverno vencido, amor.

10/10/2007



texto publicado em

4 Quartos

:: os presentes de um rei ::

eu deveria cantar pra você?

nessa escuridão onde estamos agora, eu deveria ser um homem menos denso e –

ele não trouxe coisa alguma, ele não sabia quem você era.

aqui não importa o que eu fui.

Quando eu era pequena tinha flores nos meus cabelos, o tempo todo. Elas nasciam e desabrochavam e eu as arrancava e dava para alguém. Estamos em guerra, eu estive em guerras intermináveis, cuidando de homens com ferimentos eternos. Agora as flores já não nascem, meus lábios estão secos e estou cega – ou os homens não olham mais como antes (eles só te querem até os 17).

eu deveria
cantar
pra você
dormir
nessa selva
?

eu não trouxe sentimentos em caixas, eu não trouxe sua bebida, eu não deveria ter vindo
aqui, nessa escuridão onde estou, eu deveria acender alguma luz – qualquer luz é luz quando estamos no escuro, ela diz com certa propriedade, procurando alguma coisa na bolsa.
E então fez-se luz. No meio de tanto escuro, uma vela quase no fim e um último fósforo mostraram-se úteis.

mas eu não salvo vidas

Ela sorriu para um homem que não sorria. O mundo parecia seguro, mais uma vez.

vamos entrar em outra escuridão, ela disse, olhando a vela que resistia como um deus.

Mas você irá nos guiar, ele disse, olhando a flor que surgia nos cabelos da última mulher.

E o menino – o último menino – que não sabia cantar, cantou.

01/04/2007

de tempos :

há um espaço ínfimo pelo qual eu passo, por onde eu escapo.

É quase uma fissura no osso, um dente quebrado - e só eu sei. meu conhecimento secreto.

Ele nada compulsivamente.
Eu corro. O passado ficou pesado. Não há mais mochila ou -